De acordo com um estudo científico, as abundantes emissões de aerossóis de fumaça geradas pelos devastadores incêndios florestais do "verão negro" australiano em 2019-2020 foram relacionadas a um agravamento do impacto do fenômeno meteorológico La Niña, que se repetiu por três temporadas consecutivas.
Este estudo, liderado pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR) dos Estados Unidos e publicado na revista científica Science Advances, destaca que esses incêndios excepcionais também causaram mudanças no ciclo das nuvens em escala global, semelhante ao simulado para uma grande erupção vulcânica.
A grande quantidade de nuvens de fumaça geradas por esse evento catastrófico durante o verão austral absorveu a radiação solar e causou um resfriamento na região do Oceano Pacífico Tropical, onde a La Niña se forma. Isso pode ter sido um fator na repetição desse evento natural em três ocasiões, de setembro de 2020 a março de 2023.
Mapa de matéria orgânica dispersa (dezembro de 2019).
No mapa, podemos observar que, enquanto os incêndios devastavam a Austrália em dezembro de 2019, a fumaça (indicada em vermelho nas áreas de alta concentração) se dispersou não apenas sobre o Oceano Pacífico, mas também cobriu grande parte do Hemisfério Sul. Na atmosfera, essas numerosas partículas de aerossol, compostas por material vegetal carbonizado e até mesmo restos de estruturas queimadas, atuaram como pequenos núcleos que propiciaram a condensação da água.
Essa é a forma como as nuvens normalmente se formam, quando a água se agrupa em torno de partículas de poeira. No entanto, no Hemisfério Sul, esses núcleos são escassos. Em contraste, no Hemisfério Norte, há mais massas terrestres que contribuem com partículas, favorecendo assim a formação de nuvens.
De acordo com o comunicado publicado na quarta-feira pelo NCAR (Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica), os aerossóis gerados pelas emissões de fumaça causaram um brilho nas camadas de nuvens em todo o Hemisfério Sul, especialmente ao longo da costa do Peru. Isso resultou em resfriamento e secagem do ar na região, o que por sua vez deslocou a zona de convergência dos ventos alísios do norte e do sul.
Essa repetição do fenômeno La Niña resultou em fortes inundações na Austrália e condições mais úmidas no noroeste do Pacífico. Por outro lado, na parte oposta do oceano, foram observadas condições mais secas e quentes do que o normal no sudoeste dos Estados Unidos, além de temperaturas mais frias na América do Norte, conforme mencionado no comunicado.
Imagem de satélite dos incêndios (NASA).
John Fasullo, autor principal do estudo e especialista do NCAR, indicou que é importante considerar a inclusão de eventos como os incêndios florestais nos modelos climáticos, já que, à medida que o clima muda, também ocorrem mudanças nas emissões desses incêndios.
Os devastadores incêndios florestais do "verão negro" resultaram na perda de 33 vidas, incluindo seis bombeiros, e causaram a morte de bilhões de animais. Além disso, cerca de 3.000 casas foram destruídas e 24 milhões de hectares de terra foram queimados. Esses números destacam a magnitude da destruição causada por esses incêndios.